Olá, eu sou a Thallita, esposa do Wendrel, mãe do Théo de 8 anos e agora mãe do Isaac (20 dias).
Vou contar um pouquinho como foi meu parto mais recente.
Antes de qualquer coisa, é importante falar que logo na primeira rotina de exames da gestação fui diagnosticada com Diabetes Gestacional. E isso foi um baque muito grande pra mim, pois naquele dia eu teria minha primeira reunião com a equipe que eu estava pra contratar. Eu queria muito me preparar para um parto domiciliar, e pra minha surpresa, o quadro de diabetes me deixa de fora dessa possibilidade. Logo, a Raquel já me explicou as possíveis complicações que eu poderia ter e o motivo de não poder ser domiciliar. Mesmo assim, decidi contratar a Raquel como enfermeira obstétrica e a Meiri como doula. A ideia era passar o máximo de tempo possível em casa antes de ir para a maternidade. Meu parto seria pelo SUS e por isso somente a Meiri poderia me acompanhar na maternidade.
A gestação seguiu normalmente, com todos os exames ok. Consegui controlar muito bem a diabetes com exercício e dieta, sem a necessidade de medicamentos. Levando ao pé da letra o versículo “em tudo daí graças”, eu vi o lado positivo do diagnóstico. Sabendo que precisava controlar a glicose no meu sangue para não prejudicar meu filho eu tive uma gravidez super ativa, musculação até o oitavo mês, e no último mês muita caminhada e exercícios de mobilidade. Tudo isso foi essencial para que eu mantivesse um ganho de peso adequado e também me preparou para o dia do parto.
O protocolo aqui em Araucária para os casos de DMG é interromper a gestação com 37 semanas o que eu não queria de jeito nenhum. Então com o controle adequado consegui convencer o médico a seguir pelo menos até as 40 semanas.
Porém, quando completei as 38 ele resolveu medir minha glicose com o aparelho dele e deu um valor muito absurdo de alto e com isso ele pediu pra interromper com 39. Eu não concordei, primeiramente pq o aparelho dele estava com o valor errado (realizei medições em outros aparelhos que coincidiam com o meu) e além disso todos os demais exames estavam dentro dos padrões adequados indicando uma diabetes bem controlada. Parei de ir nas consultas no postinho e segui o acompanhamento apenas pela maternidade de Araucária. Fazia o cardiotoco a cada dois dias e todos os plantonistas que me atenderam nesse intervalo concordaram em deixar a gestação seguir até as 40 semanas.
Eu sabia que com 40 semanas teria que induzir e isso me aterrorizava.
Sendo assim, logo que completei as 36 semanas já comecei a fazer algumas coisas para a indução natural. Uso de prímula, comendo 6 tâmaras por dia, muita caminhada, exercícios de mobilidade pélvica e exercícios na bola. Com 38/39 semanas outras tentativas, acupuntura,descolamento de membrana, shakes com óleo de rícino, escalda pés, momentos de aconchego com meu marido, técnica dos pontinhos.
E nada fazia eu entrar em trabalho de parto.
Minha DPP era 18/03. E eu teria que internar no dia 17/03 para iniciar a indução. Então no dia 16/03 resolvemos colocar o balão pra ver se conseguiríamos dar início ao trabalho de parto. Eu já estava com 1 cm de dilatação e um colo bem trabalho. Colocamos o balão as 17:00 e as 22:40 ele caiu sozinho. Isso indicava que já estaria com uns 3 de dilatação e possivelmente eu entraria em trabalho de parto a qualquer momento. Mas veio outra noite, onde eu dormi super bem e nada das dores virem. Acordei no domingo bem desanimada, eu teria que internar e fazer a indução medicamentosa e isso estava me frustrando muito.
A ideia era ir já cedo para o hospital, mas quando acordei pedi pro meu marido. Vamos deixar a casa arrumada e vamos almoçar em algum lugar bem gostoso antes de internamos. E assim fizemos, eu tenho pra mim que estava fugindo da indução a todo custo rsrs.
Almoçamos era 14:30 e ficamos batendo um papo na mesa. Quando foi 15:00 senti um líquido escorrendo, fui ao banheiro no restaurante mesmo e percebi que poderia ser a bolsa. Voltei pra mesa e comentei com meu marido. Como já iríamos pra maternidade dali, não tinha muito o que fazer. Resolvi então comer um fondue de chocolate com morango (passei a gestação toda com vontade), caminhamos mais um pouco pelo shopping e quando íamos sair comentei com meu marido: e se a gente passasse no Hospital do Trabalhador para uma avaliação? Ele não entendeu muito e nem concordou mas foi mesmo assim.
Eu não queria internar no hospital de Araucária, além de não ter uma boa estrutura física também não é um hospital com boa reputação na questão de humanização do parto. Fazer o parto no hospital do trabalhador já era uma ideia minha, porém, iria pra lá com o trabalho de parto mais avançado, o que não era o caso pois precisaria internar para induzir e nesse caso seria impossível ir para o HT.
Chegamos então no trabalhador, logo já me encheram de questionamentos por lá não ser minha maternidade de referência. Mas resolveram me avaliar mesmo assim, já que estava com a possibilidade da bolsa estar rompida.
Enquanto esperava me veio a mente, você só está fugindo Thallita. Devia ter ido direto para o HMA e internado lá, agora tá aqui perdendo tempo. Compartilhei o pensamento com o meu marido, pedi pra ele para virmos embora e ir direto pra maternidade de Araucária. Ele concordou que possivelmente era meu subconsciente me fazendo fugir da indução mas disse para esperarmos a avaliação no trabalhador já que estávamos ali.
Enquanto esperávamos minha bolsa rompeu de vez, e foi muito líquido. Cheguei na consulta e o médico constatou, bolsa rota com 3cm de dilatação. Pausa na história pra contar que no meu primeiro filho, quando eu cheguei em 3 de dilatação eu já tava chorando de dor e entendendo quem pedia cesárea. Mas dessa vez eu não sentia nada de dor.
Com isso, o médico disse: olha, ela está com 3 ainda, então vocês podem ir bem tranquilos para Araucária, não precisa correr nem nada o trabalho de parto pode demorar um pouco para engrenar.
E eu morrendo de medo de ir para o HMA pedi (com aquela cara de cachorro que caiu da mudança) se poderia me internar ali mesmo. Explicamos o motivo de não querer vir para Araucária e o abençoado do médico liberou meu internamento no Hospital do Trabalhador. Internamos no dia 17/03 às 17:00.
O protocolo era aguardar 6 horas de bolsa rota para ver se eu entraria em trabalho de parto naturalmente, após isso teria que começar uma indução medicamentosa.
Fomos muito bem atendidos no hospital, jantamos e ficamos num quartinho confortável e reservado. Mas novamente nada aconteceu e as 21:00 começamos a indução com Misoprostol, e de novo nada aconteceu. Após 4 horas mais uma avaliação e mais um comprimido. No total foram 4 ciclos de miso. O último foi inserido às 09:00 da manhã.
Quando foi 12:00 comecei a sentir contrações leves mas percebi que tinha ritmo e então comecei a cronometrar. As 13:00 teria que colocar outro miso, mas avisei que já estava com contrações de 3 em 3 minutos. Ao me avaliar a médica disse que já estava com 7 cm de dilatação o que pra mim foi uma grande surpresa, já que as dores estavam muito tranquilas e eu estava conseguindo lidar com elas muito bem através da respiração correta.
As 14:00 a abençoada da Meiri chegou e pelo que percebemos meu trabalho de parto começou mesmo às 14:30 que foi quando as dores ficaram mais fortes e eu já comecei a ficar fora de mim.
Muita massagem, conversas e eu quis ir pro chuveiro. Lá as dores apertaram eu comecei a gritar bastante (coisa que não fiz no primeiro parto) gritei tanto que acharam que eu já estava no expulsivo mas não era ainda.
Houve uma troca de obstetra e a que veio na sequência era bem sem paciência e começou q me falar que não era hora ainda, que o bebê estava alto e etc.
É por isso que considero importante você ter uma equipe completa ao seu lado nesse momento, as vezes uma fala de um profissional faz você travar por completo e infelizmente foi o que aconteceu comigo ali. A fala dela me fez travar. Eu achava que já estava no expulsivo, estava com muita dor e ela vem me falar que ainda vai demorar muito. Minhas contrações passaram a não ser tão efetivas, fiquei com medo de acontecer a mesma coisa que aconteceu no meu primeiro parto (bebê ficou com a cabeça transversa na hora do nascimento) falei sobre isso com eles e pedi pra essa médica avaliar a posição da cabeça do bebê. A médica avaliou e disse que eu estava de 8 para 9 de dilatação, bebê ainda muito alto, tinha mudado de posição/lado e estava com a cabeça oblíqua. Eu sabia que isso não era bom sinal, e de novo um balde de água fria. Eu estava com muita dor e tudo indicava que aquilo tudo ainda ia demorar. Implorei por cesárea, analgesia, qualquer coisa. Meu marido sem entender nada, pois eu havia falado pra ele “Cesárea só em casa de risco de vida pra mim ou para o Isaac”. Mas ele viu meu desespero e foi falar com o médico que disse:
Cesárea só depois das 20:00 pq ela almoçou às 12:00 e analgesia não é possível nessa altura e outra, não temos anestesista pra ficar aqui com ela.
Meu desespero se elevou ainda mais. E minhas contrações cada vez mais doloridas e não efetivas. Precisei entrar com ocitocina, ficamos um tempo ali e nada mudou, muita dor, pouca efetividade. Aumenta a ocitocina. E a dor que já estava insuportável piorou muito. Lembro de pegar o rosto do meu marido com as duas mãos e falar: EU NÃO AGUENTO MAIS AMOR, ESTOU FALANDO SÉRIO, ME AJUDA. PRECISO DE ANESTESIA OU CESÁREA.
Mas nós tínhamos uma super doula nos acompanhando.
A Meiri sussurrou no meu ouvido: esse não é o parto do Théo. Não vai acontecer a mesma coisa.
E ela falou pra mim e para o meu marido. “São 18:30 e às 19:00 troca o plantão, vai dar tudo certo. Me deem uma hora antes de irem pra cesárea. Em uma hora esse bebê nasce”
Pediu então minha colaboração para fazer alguns exercícios e fazer o que ela solicitasse. Começamos no shake shake kkkk muita movimentação, pano nas costas e toda contração ela e meu marido suavam a camisa de tanto puxar o pano de um lado para o outro na minha lombar. Fiquei em 4 apoios, bumbum pra cima. Aquele pano esquentando minha lombar aliviava muito as dores. E aí do nada, nasceu uma leoa de dentro de mim e eu pensei: tenho duas opções ficar aqui chorando pela dor que tô sentindo e sei lá que horas talvez conseguir ir pra cesárea ou tomar as rédeas do meu parto de novo e fazer essa criança nascer. Resolvi sair da maca e começar a agachar, foi algo natural, meu corpo pediu por aquilo. A Meiri pediu pro meu marido passar o pano pela cintura dele, eu enrolei aquele pano na mão e toda vez que a contração vinha eu agachava segurando o pano e a Meiri agachava junto comigo fazendo massagem. Dali poucos minutos minha respiração mudou e comecei a soltar algo parecido com um uivos, minha voz mudou de entonação. A equipe tinha acabado de trocar o plantão e já vieram com tudo quando mudei a vocalização. Se apresentaram e a EO já colocou um espelho embaixo e pode ver a cabeça já estava ali, o Isaac estava chegando. A bolsa tinha se refeito. Na posição que meu marido estava ele conseguia ver o espelho e naquela hora ele já começou a chorar e falar: eu tô vendo, eu tô vendo. Perguntaram se eu queria ver mas eu não quis kkkkk só queria acabar com aquela dor.
Veio mais uma contração, baby desceu mais um pouco. Está quase, alguém falou do meu lado. Vamos mudar um pouco a posição pra facilitar pra gente segurar ele quando nascer, viramos um pouco de lado. Muitos panos foram colocados no chão.
Outra contração. Mais um agachamento. O tal do círculo de fogo (tbm não senti no primeiro parto), bebê tá coroando.
Eu quero continuar forçando, mas a Meiri me lembra: espera a próxima contração, não faz força agora.
Respiro, lembro que não quero lacerar. Próxima contração, cabeça sai. Me pedem pra ficar em 4 apoios, mais uma contração, NASCEU.
Meu menino NASCEU.
Meu marido chorando, eu emocionada. O baby resmungou, mas assim que chegou no meu colo ficou quietinho. Não chorou.
Ele estava bem, eu sabia. Tinha orado e declarado muito sobre esse momento. Eu e o Isaac sabíamos como seria o momento do nascimento. Tranquilizava meu filho ainda no meu ventre, dizendo: filho, eu sei que aí tá gostoso, eu sei que isso é tudo o que você conhece até então. O seu nascimento te trará uma nova vida. Não tenha medo, do processo do seu nascimento. É algo desconhecido pra você e pode até ser um pouco desconfortável mas saiba, a mamãe e o papai estarão aqui pra te receber e te acalentar. Você vira diretamente para os meus braços, vai sentir meu coração batendo aqui do lado de fora e vai ter algo que te remete ao seu local de origem: o meu ventre. Esteja em paz meu filho, é um pequeno processo que vai durar o quanto for necessário, mas te trará para nós, para vivermos uma vida inteira assistindo o seu desenvolvimento e o seu crescimento.
Eu conversei com o Isaac na barriga inúmeras vezes sobre isso e eu sabia que o nascimento dele seria sereno e assim foi.
Ele apenas resmungou, mas chegando ao meu colo se calou e se aconchegou relaxado.
Problema é que normalmente não é assim, a pediatra do plantão se assustou com a calmaria do menino. Agilizou o o processo pediu pro pai cortar logo o cordão e segundos após o nascimento estavam arrancando o meu filho dos meus braços. E eu falando: mas ele está bem. O que vocês estão fazendo? Levaram ele para os primeiros atendimentos, assim que saiu da sala do parto ele chorou muito meu marido estava na cola, olhou pra médica e falou: ele precisa ficar com a minha esposa. É a Golden hour agora. Ele precisa ficar com ela. A médica fez alguns testes que segundo meu marido não durou 30 segundos e devolveu pro meu marido que o trouxe diretamente pra mim.
Assim que ouviu a voz do pai o choro cessou novamente e nós só fomos escutar o choro dele depois de 26 horas de nascido. Ele estava tranquilo com o nascimento. Assim que voltou pra mim já procurou por mama e mamou direto por duas horas. Somente após isso é que a pediatra voltou para avaliar, pesar, medir, fazer as primeiras vacinas.
Essa foi a minha experiência do parto, não foi 100% do jeito que eu quis/imaginei. Mas foi do jeitinho que tinha que ser.
A experiência do parto carrega consigo muitas questões internas nossas enquanto mulheres, enquanto filhas. Eu acredito ser um momento de cura de questões psicológicas e espirituais. E cada parto te ensina algo.
A dor existe mas o sofrimento é opcional. Saímos de lá programando o próximo baby.
E sem dúvidas terei novamente comigo essa equipe maravilhosa. Sem elas com certeza eu não teria conseguido.
Raquel e Meiri obrigada pela vida e pela dedicação de vocês nesse dom divino. Vocês são luz em meio as trevas, são calmaria em meio a tempestade.
Declaro sobre vocês uma vida cheia de energia, saibam que a vocação de vocês traz cura, paz e esperança. Vocês são um meio para que novas almas cheguem dos céus diretamente para os braços das suas mamães.
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